quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Leais traições

  
  Casamento amigo.
  Gosto dessa expressão para definir casamentos de anos, onde prevalece a cumplicidade, o respeito, o carinho, o amor, mas sem nenhuma paixão mais! Nada contra, não julgo nem recrimino! Algumas vezes é a melhor opção, a relação mais segura, a mais serena, ou o que temos para o momento!
  A paixão pode gerar pequenos conflitos claro, carrega consigo muitas vezes uma dose generosa de ciúmes, de insegurança, de adorável insanidade! Mas ainda acho sua companhia deliciosa!
  Mas existem muitos casamentos amigos por ai e em alguns ainda restam momentos desta adorável insanidade, que podem gerar curiosidade, dificuldade de compreensão!
  É meio um paradoxo pensar que um casal que vive sem paixão, sem tesão, onde a cama é apenas parte do contrato, vivenciem ocasionalmente cenas de ciúmes, de cobranças, desconfianças.
  O que alimenta a passionalidade quando a paixão se muda afinal?
  Convenções talvez, vivemos em meio a uma série delas, afinal se optamos por preservar o casamento, mesmo tendo se tornado o "casamento amigo", há convenções que são intrínseca a ele e que devemos cumprir, caso contrário este casamento ficará insustentável em algum tempo!
  Não se sobrevive muito tempo vivendo com um outro que não se importa se chegamos as 20:00 ou 23:00, nem se vamos ao dentista ou a academia, que nunca nos faz um elogio, um carinho, um olhar! Mesmo quando estamos ligados no automático e tudo se torna quase mecânico, somos alimentados em nossas relações pela atenção do outro, ainda que ela venha em notas falsas e suaves prestações!
  Já fiz carinho para evitar discutir, já iniciei o sexo para preencher o silêncio de um fim de semana, ou apenas para passar a mensagem de "ei, continuo aqui, e continuamos casados", já fingi ciúmes para valorizar, já preservei rituais conjugais apenas para amenizar a culpa!
  A culpa pela própria covardia, a escolha silenciosa pelo casamento amigo, pela aceitação a ser menos, a fazer menos! Justo eu, que sempre preguei que se estamos aqui, é para sermos e fazermos felizes! Mas admito sem culpa que já vivi para as convenções e sobrevivi inteira, ou quase, a elas.
  Quando fazemos uma escolha, ela deve ser abraçada por completo, ter nosso melhor, nosso mais inteiro permitido. Claro que vai doer, soar hipocrisia, bater saudade, vontade correr e gritar as vezes, gerar críticas, mas somos mulheres, e acredito que em algumas fases dessa condição sejamos capazes de pedir para o "ser feliz" nos esperar mais um pouco.
  Separar dói, sempre e muito! Mesmo quando o que a vida está nos oferecendo for doce, seguro, inteiro, mesmo quando a vontade ao recomeço for enorme, quando a saudade já está gritando, pedindo, quase implorando. Ainda podemos ser capazes de esperar, suportar!
  E o motivo para esta espera será sempre muito, muito valioso!
MM